quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Aliás, para bom entendedor, um pingo é chuva.


As prateleiras de produtos bipolares do Mercadinho das Ilusões estão repletas de novidades para os que padecem de velhos dilemas como ser ou não ser, comê-la ou não comê-la, casar-se ou comprar uma bicicleta de 12 marchas com câmbio Shimano. Mesmo sem pedirmos, a vida nos reserva os seus intrincados joguetes, encruzilhadas, novelos e atropelos. É pegar ou largar.

Percebendo o alastrado nicho de pintos — nós — a ciscarem infelizes no lixo, o Mercadinho das Ilusões abarrotou as suas gôndolas com produtos indefectíveis, emoções perecíveis e dramas por sinal risíveis. Quem quiser, que faça uso para um bom combate. Aliás, para bom entendedor, um pingo é chuva. Eis a mercadoria em promoção do texto de hoje:

Livros de “como fazer amigos” para quem detestou “Cem Anos de Solidão”. Velas de 7 dias para queimarmos de segunda-feira a domingo. Valas rasas para enterrar desilusões profundas. Partos naturais a seco para o beneficio dos fetos hidrofóbicos. Pás mecânicas para amores encalhados. Binóculos para estúpidos cúpidos. Câmaras de gás hilariante para rirmos das próprias desgraças.

Chicotes de vento para os domadores de palavras. GPS para percorrer os labirintos de uma mulher. Corações de lata para quem não se permite sair dos trilhos nem que seja para descarrilar um pouquinho. Pelotões de fuzilamento para matar a saudade.

Dores de cabeça para conter o ímpeto das ninfomaníacas. Bonecas infláveis que dizem eu te amo. Pilhas alcalinas para amantes sem vibração alguma. Salvas de canhão em tributo a um grande amor que já morreu. Cancros moles para quem tem coração duro. Bíblias traduzidas para a língua do pê. Defesas milagrosas para goleiros ateus.

Sandálias que não soltam as tiras de quem já está com um pé na cova. Óculos de cebola para homens que nunca choram. Passeios de buggy nas dunas de Natal — com emoção — para desconsertar pessimistas. Balas de festim para casais-felizes-para-sempre-até-que-a-morte-os-separe. Uma penca de advogados.

Tornozeleiras eletrônicas para deputados federais com mandatos vigentes. Esquinas completas — vão ver se estou numa delas! — para humanizar Brasília. Planos de fuga do Plano Piloto. Ordem e progresso. Penitenciárias de segurança mínima pra facilitar a fuga da verdade. Prisão perpétua para o amor dentro do peito.

Planos de Doença para suicidas potenciais. Asas da imaginação para voar nos céus das bocas. Mentiras convincentes para serem ditas num leito de morte. Dicionário de “minhas últimas palavras”. Uma dúzia de sorrisos francos extraídos do cerne de crianças nativas da Amazônia e de todos os canteiros do planeta. Esperança a granel para os que acabam de nascer. Pores do sol portáteis pra gente acender nas noites tristes.

Eu vi, eu vejo, eu sei...

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