terça-feira, 21 de março de 2017

A bagagem emocional é mais pesada.

Possuímos alguma coisa que nos acompanha ao longo das nossas vidas por aqueles lugares que vamos e aos que, em algum momento, quisemos retornar. É uma bagagem que nos torna especiais porque tem a medida dos sonhos, das ilusões e, principalmente, dos apegos com os quais viajamos quando decidimos partir.

Em nossa bagagem levamos nossas emoções, que vibram do nosso interior, e as pessoas que as provocam. Portanto, não é fácil observar, mas ela está ali, vai e vem num ritmo cadenciado com cada um dos passos que damos, e diz muito sobre quem somos.
O efeito das pessoas que fazem meu coração vibrar toda vez como se fosse a primeira.”
-Ella Fitzgerald-
 Os laços que temos nos tornam únicos emocional e espiritualmente porque mostram relacionamentos que são pessoais e o grau de contato afetivo que mantemos com eles. Por isso gostamos de lembrar as experiências com os seres queridos que ficaram longe quando partimos: porque os levamos pertinho, no coração, em forma de amor e nostalgia.

Chegamos a uma estação, nos dirigimos a um aeroporto ou subimos num carro dispostos a enfrentar uma experiência nova. Dá na mesma que dure meses, anos, ou mesmo horas, porque da mesma forma vamos preparar a nossa bagagem.

Então, pensaremos em carregá-la com objetos materiais que cubram o que pensamos que iremos precisar: roupa, aparelhos eletrônicos, documentos e, dependendo da duração da viagem, até lembranças como fotos ou cartões postais. Depois disso, todos passamos alguma vez pelo momento das despedidas.

Chamam-nas despedidas sem sentido, como se estivéssemos deixando para trás as pessoas que ficam e fisicamente não vão conosco. Em geral não soltamos, não lançamos, não nos desprendemos dos outros. Todos sabemos por que dói tanto esse tipo de adeus passageiro.
“Fazemos das despedidas meia volta ao mundo para que mesmo que demoremos queiramos voltar” […]
-Elvira Sastre-

Justamente porque naquela estação ou aeroporto damos as costas a alguém esperando com força um abraço novamente o mais cedo possível. Estas despedidas são duras porque no fundo nunca foram: são parêntesis espaciais de um carinho que continuará no tempo. Os laços nos protegem do frio no local onde chegamos e evitam o vazio e a solidão.

Ir para outro lugar e deixar o seu lar para trás é uma atitude muito corajosa, já que implica se colocar em posições onde não temos experiência. E, como se ainda fosse pouco, as pessoas que costumam nos ajudar quando temos problemas não poderão nos ajudar do mesmo jeito.

Quando a viagem é longa você descobre, por exemplo, que dentro dessa bagagem cheia de laços afetivos com os quais você havia começado a aventura, de repente tudo começa a ser filtrado. Isto é, percebemos que talvez algumas dessas despedidas passageiras não eram exatamente isso, ou que havíamos colocado na mala pessoas com as quais não havia muita ligação.
Você continua resistindo, mas ela já não… vamos somando e retirando volume dessa bagagem. E, no fim das contas, entendemos que nela não havia lugar para tudo, que o material era o que menos espaço ocupava, e que quanto mais peso puder suportar, mais firme será.

Suponho que, graças a reflexões como esta, nos fixamos em um lugar e, após termos vivido nele, afirmamos que o lar está dentro e não fora, em alguma casa física. Ao regressar, olhamos aqueles a quem havíamos dito “até logo” e é neles que enxergamos a casa, o lar, a essência.

Nos unimos novamente aos laços afetivos que já tínhamos e adicionamos os que agora chegam conosco da viagem que acabamos de realizar. No fim das contas, sempre existe uma taça nos esperando junto a um amigo que fizemos faz tempo, um abraço a dar naquele colega de sala da universidade, uma conversa com o desconhecido que você falou naquela viagem e cuja lembrança o acompanha nos dias de chuva…
“A qualidade da viagem se mede pela quantidade de lembranças que você acumula.”
-Benito Taibo-
Esta será a nossa bagagem, e nos entregaremos aos outros assim: não falaremos da roupa que usamos, mas seremos incansáveis relembrando pessoas. Trata-se de uma demonstração a mais de que o carinho e o afeto vão ficando com pequenos pedaços do coração e levam consigo os dos outros: invisíveis, nos unem e nos dão sentido.
(a mente é maravilhosa)

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